Cântico Negro - Não Enche
Maria Bethânia com um poema de José Régio
"Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
Parece claustrofóbico, o oposto do que faço sentir.
Sinto-me exausta mas a alma sabe-lhe uma felicidade extrema que não consigo perceber.
Uma perspetiva ambígua.
Quase que imploro que me façam chamar.
Que me vejam e eu seja. Eu.
Repito.
Eu seja.
O que penso é a simulação de uma verdade.
Defino quem sou. Através disto e daquilo.
Estou exausta.
"Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço." [Álvaro de Campos, Cansaço]
Um instante até que a agonia sassie.
O que gosto desta liberdade escrita inconsciente à matéria.
"Aproveitem quando não é para nota."
[João Queirós em workshop]
Vejo-lhe a satisfação no esforço. A curiosidade e a vontade ofegante de mais. É um intruso na sua mente confusa. Quero eu falar de outros sem saber quem sou. Uma biografia no Wikipedia, um tanto dramática, me serviria para saber.
Quem saberá?
Um retrato orgânico e falso do que se não é.
Por determinar um trabalho brilhante, será tudo a exaustão que se lhe é atribuída.
Esse ambiente que teoriza e não esclarece. Uma mente quadrada jamais.
"O pior que se pode acontecer ao prazer é a banalidade da rotina."