18 de maio de 2016

Ampulheta

Existe sempre uma constante em mim que, interiormente, detesto.
A minha primazia em levar sentimentos ao extremo, quer seja pela tristeza ou pela felicidade.
Às vezes preciso do meu espaço, do meu tempo. Adoro passar breves momentos sozinha e apreciar cada segundo, cada pensamento que me ocorre, sentir-me um tanto livre quando olho para onde quero sem estar presa a nenhuma situação presente. Sem ter que me focar em algo. É como se, nessas alturas, fosse só eu e o mundo, e como se, no fundo, todas as pessoas que estão à minha volta, não fossem pessoas, somente objetos vivos.
Mas de tempos a tempos ocorre-me um determinado pensamento e é como se me prendesse a isso a todo o custo, e por mais que parte de mim queira viajar para outros continentes, outra parte do meu cérebro está cada vez mais interessado a ir ao fundo da questão. Como se o mundo racional estivesse sempre de mãos dadas com o mundo sentimental e eu não tivesse oportunidade de escolha porque a balança bate sempre o mesmo.
Dou por mim a reparar em cada detalhe, em cada atitude, em cada gesto. E mesmo em cada minuto. Verifico o relógio vezes sem conta sem motivo aparente. É como se estivesse sempre à espera que algo acontecesse. E quando sinto que quero que algo aconteça começo a encher-me por dentro, como se a areia na ampulheta estivesse a cair cada vez mais rápido, e sinto-me ansiosa, apertada por dentro. Não consigo estar quieta tantos instantes, preciso de mudar a imagem que estou a ver, aguento três minutos. É difícil focar-me em algo. Acho que me treinei a vida toda para conseguir conter essa situação. Já foi mais difícil.