27 de julho de 2019

A verdade é que quando crescemos, a determinado ponto, as coisas ganham outro peso, outro balanço. São menos complexas do que aquela fase em que teimamos ser o fim do mundo. Existem mais coisas, mais preocupações, mas o peso é completamente diferente.
Já não existe aquele relógio bomba constante do é ou não é de todo. Somos mais cautelosos. Cada passo é uma escolha e nós já não escolhemos arrasar com tudo de um dia para o outro.
A verdade é que, sendo assim, passamos a aceitar uma nova verdade. A felicidade já não é aquele pico que se atinge de x a x, e a tristeza não é algo que surge tanto como antes. No fundo, já não sentimos nada tão plenamente. As sensações difundem-se, acalmam, e nós passamos a sentir praticamente o mesmo todos os dias. Às vezes mais, outras menos. Mas é basicamente isso, se pudesse definir o que é ser adulto é isto, sentir sem grande euforia, nuns dias com muitas dúvidas, outras sem tempo para ter dúvidas do que quer que seja.
A determinado ponto é como se as pessoas nos fossem implementando um álbum de fotos de férias constante, e como se a nossa vida fosse sempre menos entusiasmante que a dos outros. Afinal de contas, só nos deitamos para descansar e só acordamos para trabalhar. Os objetivos são a vida mais a sério, e há dias em que nos questionamos se a queremos assim tão a sério ou se ainda vamos a tempo de a largar.
Ser adulto é aborrecido. Deixamos de ter dias específicos em que vamos sair à noite, em primeiro lugar porque estamos exaustos e trabalhamos cedo no dia seguinte, e em segundo, porque todos os nossos amigos agora fazem exatamente o mesmo. Portanto, pouco a pouco deixamos de os ver. Chegamos quase a esquecê-los, mas de vez em quando lá surgem as fotografias de férias.
O verão começa a chegar ao fim e apercebemo-nos que nem sequer apanhámos sol. E aqueles meses maravilhosos que antes pareciam uma vida, agora são só mais umas semanas de trabalho que passam a correr.

18 de maio de 2016

Ampulheta

Existe sempre uma constante em mim que, interiormente, detesto.
A minha primazia em levar sentimentos ao extremo, quer seja pela tristeza ou pela felicidade.
Às vezes preciso do meu espaço, do meu tempo. Adoro passar breves momentos sozinha e apreciar cada segundo, cada pensamento que me ocorre, sentir-me um tanto livre quando olho para onde quero sem estar presa a nenhuma situação presente. Sem ter que me focar em algo. É como se, nessas alturas, fosse só eu e o mundo, e como se, no fundo, todas as pessoas que estão à minha volta, não fossem pessoas, somente objetos vivos.
Mas de tempos a tempos ocorre-me um determinado pensamento e é como se me prendesse a isso a todo o custo, e por mais que parte de mim queira viajar para outros continentes, outra parte do meu cérebro está cada vez mais interessado a ir ao fundo da questão. Como se o mundo racional estivesse sempre de mãos dadas com o mundo sentimental e eu não tivesse oportunidade de escolha porque a balança bate sempre o mesmo.
Dou por mim a reparar em cada detalhe, em cada atitude, em cada gesto. E mesmo em cada minuto. Verifico o relógio vezes sem conta sem motivo aparente. É como se estivesse sempre à espera que algo acontecesse. E quando sinto que quero que algo aconteça começo a encher-me por dentro, como se a areia na ampulheta estivesse a cair cada vez mais rápido, e sinto-me ansiosa, apertada por dentro. Não consigo estar quieta tantos instantes, preciso de mudar a imagem que estou a ver, aguento três minutos. É difícil focar-me em algo. Acho que me treinei a vida toda para conseguir conter essa situação. Já foi mais difícil.


5 de abril de 2016

Ex Machina

Tenho apenas a registar que é dos melhores filmes que já vi. Imprevisível e extraordinário a todos os níveis. A imagem é excelente, a história é cativante ao longo do filme todo. Comecei a ver o filme a pensar que seria muito fantasiado, e confesso que não sou muito dada a tal, mas além de não corresponder a isso, supera as expectativas. Mais que recomendado.









26 de março de 2016

The Lady In The Van

The Lady In The Van
Não achei que o filme tivesse um argumento particularmente interessante. É um filme simples, uma história diferente e, simultaneamente, comum. Mas a atriz é extraordinária, Maggie Smith ao lado de Alex Jennings. Pega num papel monótomo e transforma-o muitíssimo bem.







21 de março de 2016

Migração

Estado de alma

Estou envolta na afronta que é a sordidez e o avalanche da minha vida. Percorro milhas de rotina sem fim, e os lençóis, por mais que os lave, são sempre os lençóis velhos da casa onde cresci.

É neste despoletar de refúgio que me encontro e me apercebo que as etnias não passam de um solo, de um ensinamento precário e que não há nada mais belo que uma mão vermelha, queimada do calor, tocar uma mão negra e sentir o ser completo em fim.

Carol

O Filme Carol retrata o mundo real de um romance lésbico na década de 50. Atrai-nos através da imagem, tem passagens muito interessantes. O filme tem uma introdução lenta mas é bastante poético. 

Carol Aird: [to Therese] I love you.








20 de julho de 2015

É sempre passado

Na medida dos impossíveis sou quem queria ser.
Sofro de náuseas e das ausências e vivo a correr o instante.
"É passado." - digo.
E é sempre passado, mesmo quando é presente, mesmo que o futuro seja amanhã.
Espero uma carência tua, enrolo-me nos teus últimos planos e faço deles o resto da minha vida.
E tu balanças.
E tropeças nas tuas próprias escolhas quando dizes que nada é para ti, que tu não serves mesmo quando os teus olhos brilham ao ver as minhas sardas no nariz, com os teus olhos nos meus, com a tua boca na minha.
Não ousaste acordar e eu adormeci. Acordei hoje e não senti a tua falta. Tu deixas de balançar para correr, dizes-me "Quero-te de volta a mim." e eu digo por uma última vez "É passado", e foi.

6 de julho de 2015

Negar é enganar-se na porta.

E o amor ainda cá está?

   A prova de que as metáforas se encaixam tão perfeitamente em quase estão nas letras da maioria das músicas, que nada têm a ver connosco, e se enquadram tão bem na nossa vida.
   Existe em mim um sentimento soberbo que encripta o amor perdido que tenho por ti.
   Será que és quem foste ou és só a matéria de algo novo?
   E o que foi já foi?...Não é hoje de maneira alguma?
 
E o amor ainda cá está?
Tu, ainda existes?

5 de abril de 2015

Pelo menos de mim

O teu sorriso tem tudo de mim. És toda eu.
Cada traço teu.

Um ponto de passagem,
abarcava em ti e via passar o mar.

Ao domingo vinha feliz de nós.
Queria poder dizer-te adeus, mas olha, nunca foste. Pelo menos de mim, nunca te foste.

2 de abril de 2015

Viagem

Assim foram todos os dias contados que partiste em viagem.
O amor que partilhamos um dia, ainda cabe em mim passado tanto tempo. Não conto o tempo, mas cabe.
Ainda me lembro de te ouvir dizer "És tu." e era, nós eramos. Ainda és.
É como se ainda pudesse ouvir-te tocar piano, como se às horas de tomares os medicamentos ainda fosse à cozinha para te levar as coisas mas tu não estás, e eu já não oiço...

Percorria tudo para te ver dois segundos. Mas eram os melhores dois segundos, pelo menos tu fazias com que fosse. Num beijo cabia o meu amor por ti e o mundo se chegasse perto.

Mergulhei os momentos em ti. Tudo é longe sem estares.
A falta que me fazes não cabe em nada.

11 de fevereiro de 2015

O pico

Estamos sozinhos à deriva. Aparece uma mente brilhante que nos suscita.
Alguém que aparece só por força do destino, que, subitamente, passamos a viver, que vai ficando. Gostarmos de alguém é uma ciência fácil, apaixonarmo-nos pelos sabores que envolve a pessoa, a expressão suave da pele, o toque sensível, o perfume.
É tudo uma constante fácil que nos atrai, cativa. Toxinas que se encontra na cocaína.
Amamos alguém através da ideia que é a partilha, a experiência, e não passa disso.
Sentimos que o destino nos abençoou para variar, a felicidade é um pico e atingímo-lo inúmeras vezes como o orgasmo num sexo inexplicável. A paixão no auge.
O mundo dá voltas e faz sentido desta forma.

O tempo dá-se.
Até ao dia.

Em que se resume tudo a uma palavra: perda. E que sujeitos sem fim desconhecem o termo.
As famosas noites escuras. Somos totalmente atropelados por uma série de más sensações.
Uma quebra de sanidade. Inconstância de estados de alma. Fotografias inevitáveis.

30 de janeiro de 2015

Somos especiais para as pobres pessoas a quem partimos o coração e que habitam um caixão de um corpo deixado há muito.

15 de janeiro de 2015

Detesto sentir que sou semelhante a este nível a qualquer outra flor.
As flores precisam de sentir uma individualidade. Criaram-nos com parecenças genéticas para que tivéssemos a possibilidade de ser um astro completamente diferente do outro, e mesmo assim, somos tantos que damos por nós a viver no mesmo jardim, a nascer da mesma raiz, a viver do mesmo Sol.

11 de janeiro de 2015

A Naifa

"Tenho também ciúmes da tua voz
Ouvir-te é ficar só uma vez mais."


"Foi como amor aquilo que fizemos
os dois carentes
foi logro aceite quando nos fodemos."

[A Naifa]